O mercado de conteúdo está aquecido para as produtoras independentes não apenas por conta das cotas de programação na TV por assinatura. Segundo Mara Lobão, diretora executiva da Panorâmica Comunicação, três fatores influenciam no desempenho do mercado: "as cotas criadas pela nova lei da TV por assinatura, o aumento bárbaro na base de assinantes e a tecnologia, que multiplicou o número de telas que demanda conteúdo de qualidade".
A Panorâmica teve um crescimento de mais de 300% em seu faturamento nos dois últimos anos. O "carro-chefe" da empresa é a novela infantil "Gaby Estrella", que estreia em outubro a segunda temporada com 40 episódios no canal Gloob. Além disso, estreia em setembro "Meu Amigo Encosto",primeira série de ficção do Canal Viva, fruto do 1º Programa Globosat de Roteiristas, em 2013. Entre os trabalhos recentes está ainda a nova temporada de "Afinando a Língua", que estreia em setembro no Canal Futura com o apresentador Tony Bellotto. O produtora também está desenvolvendo com a Recoprd a série de ficção de aventura "Sem Volta". Também prepara uma websérie para o canal gente. "Estamos em um momento 'cria e vende'. Quase não damos conta da demanda", conta.
Segundo Mara, em dez anos trabalhando com o mercado de televisão a produtora desenvolveu um bom relacionamento com os canais. Mas nunca teve a possibilidade de fazer séries maiores. "Há dez anos, não havia mercado no Brasil para um conteúdo como 'Gaby Estrella'. Hoje, criamos ficção documentários e programas de lifesttyle e podemos oferecer a cinco ou seis canais", explica.
A produtora conta que a equipe interna da Panorâmica aumentou, por conta da nova demanda, em 50%. Já a equipe volante, chamada por trabalho, cresceu em 500%. "Tivemos que buscar ajuda de consultores externos, do próprio Sebrae, por exemplo." Também foram feitos investimentos em infraestrutura técnica, incluindo câmeras, iluminação e ilhas de pós. Isso porque a empresa, já teve dificuldade em encontrar equipamentos no mercado de locação.
Desafios
Segundo Mara Lobão, os desafios estão na contratação de mão de obra e, no caso dos projetos que usam recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, que ainda demora a liberar a verba, mesmo após a aprovação. No caso da mão de obra, que está aquém da demanda, os custos estão elevados. "Já recebi orçamento de eletricista que cobra R$ 4 mil por semana de trabalho", conta. "Falta profissionais em todos os níveis, das áreas técnica e artística", completa.
Em relação ao dinheiro do FSA, Mara diz que dá para contar com ele, mas em projetos que permitam a espera. "Uma dificuldade é a inflação. Entre o orçamento e a liberação dos recursos, passa um ano, ou até mais. Os preços já não são os mesmos", completa.
Do ponto de vista criativo, a produtora aponta a demanda por conteúdos que "acertem o coração do novo público da TV paga", formado majoritariamente pela classe C. "É um desafio para todo o mercado, que precisa aprender a conversar melhor com esse público. As pessoas escrevem sobre o mundo que elas conhecem, e são poucos os criadores que conhecem o universo desse novo público", conta.
