(Imagem/Divulgação TV Brasil) |
O incêndio do Museu Nacional destruiu muitos tesouros históricos, entre ele o crânio de Luzia, considerado o fóssil humano mais antigo encontrado na América, com 11 mil e 300 anos. Para colocar essa tragédia em perspectiva, o jornalista Moisés Rabinovici entrevista no Um olhar sobre mundo o geoarqueólogo André Strauss. Ele trabalhou na mesma região do sítio arqueológico onde Luzia foi descoberta como coordenador do projeto “Morte e vida na Lapa do Santo”. Um olhar sobre o mundo vai ao ar pela TV Brasil, na segunda-feira, dia 24, às 21h45.
Strauss, que é mestre em genética e biologia evolutiva pela USP, revela que o crânio de Luzia teve sua idade determinada por uma técnica chamada datação associada: “Você data os carvões de fogueira que estavam próximos ao esqueleto e infere que o fóssil teria a mesma idade que eles. [...] Como é uma data estimada, ela pode variar dependendo como você olha para questão e alguns colegas a colocam num período mais recente”.
Dessa maneira, é possível que outros fósseis da região, datados entre 10 mil e 8 mil anos, não estejam tão distantes assim do título de mais antigo da América. O arqueólogo lembra que “a diferença de idade não é tão importante, o importante são as informações que esses esqueletos nos permitem obter sobre os grupos que habitavam o Brasil central nesse período geológico”.
Algumas dessas informações são a origem e a distinção entre o povo do qual Luzia fazia parte e o que deu origem aos índios do Brasil atual. “Os dois grupos vieram pelo Estreito de Bering [...] Em nenhum lugar da América se imagina que havia um grupo humano que não veio da Ásia”, explica Strauss.
O pesquisador também relata uma das teses mais recentes sobre o povo de Luzia: “Esses grupos que estavam em Lagoa Santa, dos quais a Luzia é a representante mais famosa mas não a única, apresentam uma morfologia craniana muito diferente e portanto representariam a chegada na América de populações sem uma relação direta com os grupos que deram origem à diversidade ameríndia atual”.
Nesse contexto, a região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, é importante porque suas cavernas de calcário preservam bem os esqueletos humanos. Como conta o pesquisador, Lagoa Santa se insere na história da arqueologia com a chegada do pai da paleontologia brasileira. “O naturalista dinamarquês Peter Lund é atraído para Lagoa Santa por descrições de fósseis encontrados durante a exploração mineral e nunca mais volta para Dinamarca”, conta o pesquisador.
O âncora do Um olhar sobre o mundo também tem uma relação especial com Lagoa Santa. Quando jovem, Rabinovici chegou a participar de escavações na região, onde encontrou um crânio que depois foi datado de 10 mil anos por testes de carbono 14.
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