Divulgação Globo/Fábio Rocha |
A dependência química é uma questão urgente que afeta muitas famílias no Brasil e no mundo, nos dias atuais. A droga não diferencia cor, religião e muito menos classe social. São vidas viradas do avesso e adoecidas, tanto do dependente quanto dos que se relacionam com ele. Tratamento médico especializado e afeto são essenciais na busca da cura. Este é o mote da série Original Globoplay 'Onde Está Meu Coração', que chega à plataforma no dia 04 de Maio. Neste novo trabalho em parceria, os autores George Moura e Sergio Goldenberg e a diretora artística Luísa Lima apresentam os conflitos que uma família enfrenta por causa da dependência de drogas da filha primogênita.
Na história, Amanda (Leticia Colin), uma jovem médica bem-sucedida e idealista, vinda de uma família de classe alta, que se deixa levar pelo prazer fugaz das drogas sem conseguir mais dar conta da sua vida profissional e afetiva. Ao lado dela, seus pais, a executiva Sofia (Mariana Lima) e o médico David (Fábio Assunção), junto com seu marido, o arquiteto Miguel (Daniel de Oliveira), e sua irmã Julia (Manu Morelli) também acabam envolvidos quando a situação de Amanda perde o controle. Quando se revela a fragilidade da estrutura familiar, até então inquestionável, todos precisam enfrentar seus dramas pessoais.
As obras de George Moura e Sergio Goldenberg têm em comum um olhar especial para a exaltação do papel determinante da mulher na sociedade, com fortes e sensíveis heroínas. É assim em ‘O Canto da Sereia’, ‘O Rebu’ e ‘Onde Nascem os Fortes’. Agora, em ‘Onde Está Meu Coração’, reafirmam o fascínio por personagens mulheres com todas as suas complexidades e com um denominador comum: o poder do amor feminino. Este olhar feminino ganha amplitude com Luísa Lima, que faz sua estreia como diretora artística. Desde 2003 na Globo, já assinou projetos como ‘Insensato Coração’, ‘Sangue Bom’, ‘O Rebu’, ‘Justiça’, ‘Nada Será Como Antes’ e ‘Onde Nascem os Fortes’, também de George e Sergio.
Série original Globoplay, desenvolvida pelos Estúdios Globo, ‘Onde Está Meu Coração’ é criada e escrita por George Moura e Sergio Goldenberg e tem direção artística de Luísa Lima, com supervisão artística de José Luiz Villamarim. No dia 03 de maio, o Tela Quente, da TV Globo, exibe o primeiro episódio da obra, que chega na íntegra à plataforma no dia 04 de maio. Abaixo, um pingue-pongue com os autores George Moura e Sergio Goldenberg e a diretora artística Luísa Lima.
- Qual foi a inspiração para a série? O que os levou a escrever sobre o tema?
George Moura: Para qualquer que seja a plataforma, eu me dedico sempre a escrever sobre temas que são, de alguma maneira, reflexões do comportamento humano. A ideia de tocar a sensibilidade das pessoas, para que elas olhem sobre alguns aspectos da vida que, às vezes, por seus cotidianos, elas não têm o habito de olhar, é uma das funções da dramaturgia. Aprendi isso com os poetas, que têm o dom de escrever sobre algo do cotidiano, fazendo com que você passe a enxergar as coisas de uma forma nunca vista antes. Um dos princípios para a escolha do tema central desta série é simples: todos nós conhecemos alguém ou já ouvimos alguma história que envolva a dependência química, seja a de bebidas, drogas ou qualquer outro tipo. E isso me fez pensar que esse é um terreno vasto, grande e promissor para construir uma história. ‘Onde Está Meu Coração’ é uma série sobre uma médica chamada Amanda, envolta em um grande problema com a dependência química, que mostra uma questão inerente a qualquer pessoa nessa situação: ela não adoece sozinha; as pessoas à sua volta, familiares e amigos, adoecem junto. E isso é importante de ser retratado e discutido em uma obra de ficção.
Sergio Goldenberg: Eu convivi com famílias que viveram problemas como o da Amanda, nossa protagonista. É muito triste e difícil. O dependente químico, muitas vezes, não admite que deixou de ser simplesmente um cara animado e festeiro. Amigos e a própria família começam a evitá-lo, a fugir, a esquecer. Pessoas com um quadro como o da Amanda ficam ingovernáveis e os riscos são muito grandes. Ela para de pensar no trabalho, na família, em todos os compromissos. A única preocupação é com a próxima dose. A ideia é mostrar como a dependência toma conta de Amanda e que não existe uma única solução. ‘Onde Está Meu Coração’ mostra as dificuldades de recuperação, mas é principalmente uma história de redenção.
- Por que conduzir esse tema por uma personagem da classe média alta?
George Moura: É importante tratarmos desse assunto em uma classe social em que as necessidades básicas de um ser humano não são um problema, em que estão resolvidas, para mostrar que a dependência química não é uma questão de sobrevivência. Não é porque a pessoa não tem uma condição financeira favorável, não tem oportunidades, que ela recorre à bebida ou à droga. A classe média alta, em geral, tem estabilidade financeira, mas, mesmo assim, busca a droga. Há um buraco, um abismo existencial de uma ordem que não é material.
Sergio Goldenberg: A dependência química é comum em todas as classes sociais, mas as pessoas não falam sobre isso, têm vergonha. É como uma derrota pessoal.
- Que estética define ‘Onde Está Meu Coração’ e suas locações?
Luísa Lima: A estética da série obedece a uma lógica emocional, psicológica e sensorial. Busca um discurso dramático em que as relações familiares e a subjetividade da Amanda nos guiam, exaltando a variação, a incompreensão e a incompletude dos comportamentos e da vivência humana/social. A fotografia e os recursos de câmera evitam saltar além dos atores e dos dramas vividos. Sugerem, antes, um olhar íntimo, observador e também paranoico ou reflexivo. Mostramos um drama de intensas angústias, brigas, delírios, dificuldades de relacionamento e luta contra o próprio desejo contraditório de alívio e destruição. As locações contribuem para a construção de um mundo ora frio e impecável, tal como o apartamento ‘brutalista’ e conceitual de Miguel e Amanda, como também estampa a ideia de afeto familiar e memória na casa angulosa de Sofia e David. O hospital traz dimensões grandiosas, assustadoras, realçando a ideia de pressão da vivência médica e da rotina ao mesmo tempo cruel e trivial da morte.
- Como é dirigir uma série com histórias tão marcantes, com caminhos tão diversos para cada personagem?
Luísa Lima: Tenho a preocupação em olhar para esses personagens tentando compreender suas questões, suas dificuldades, seus fracassos, sem julgamento. Não vamos aliviar a droga, nem ‘glamourizar’ seu uso, mas desejamos gerar empatia com o público, sobretudo porque a série fala das dificuldades que uma família enfrenta com um ente dependente químico. Isso é muito real, muito próximo das pessoas.