Com estreia marcada para 5 de junho, o filme AINDA NÃO É AMANHÃ mergulha em um tema muito delicado no Brasil: a criminalização do aborto e seus efeitos sobre mulheres que gostariam de tomar essa decisão, mas vivem em um ambiente permeado por julgamentos morais, ausência de políticas públicas e silêncio institucional.
No Brasil, o aborto legal é permitido apenas em três situações: estupro, risco de vida da gestante ou anencefalia do feto. Ainda assim, a realidade está muito aquém da legislação. Mesmo os casos autorizados pela lei frequentemente enfrentam entraves burocráticos, objeções de consciência de profissionais de saúde e negligência do Estado. Além disso, estima-se que mais de 500 mil abortos clandestinos ocorram todos os anos no país, segundo dados da Pesquisa Nacional de Aborto. A maior parte das pessoas que recorrem ao aborto são mulheres jovens, negras e de baixa renda. Este é o perfil de Janaína, protagonista do primeiro longa dirigido por Milena Times.
O filme acompanha a trajetória de Janaína (Mayara Santos), jovem de 18 anos criada pela mãe (Clau Barros) e pela avó (Cláudia Conceição) em um conjunto habitacional da periferia do Recife. Bolsista em uma faculdade de Direito, Janaína carrega o sonho de ser a primeira pessoa da família a conquistar um diploma universitário. Quando descobre que está grávida, ela passa a confrontar os seus planos, o legado das mulheres que a criaram e as possibilidades para o seu futuro, mergulhando em um processo doloroso e solitário de tomada de decisão em uma sociedade que não lhe oferece alternativas seguras.
Para Milena, a escolha de falar sobre o aborto parte do desejo de tratar a maternidade como uma escolha, e não uma imposição. ''Pessoas optam pela interrupção voluntária da gravidez em qualquer lugar do mundo, por inúmeras razões. O que muda é o acesso à informação, ao acolhimento e à segurança para fazê-lo'', afirma a diretora em entrevista para a Variety. Segundo ela, boa parte dos efeitos mais danosos do aborto não está no procedimento em si, mas nas consequências da criminalização. ''Nosso intuito foi mergulhar nas camadas que envolvem essa experiência a partir de um ponto de vista íntimo. Mostrar a pessoa por trás da decisão, sem julgamento, com complexidade e generosidade''.
Longe de uma abordagem panfletária, AINDA NÃO É AMANHÃ nunca trata a decisão de Janaína como algo banal, mas sim como um processo angustiante e permeado de obstáculos, como observou a crítica do Rapsódia Boêmia: ''O filme constrói um relato bastante sensível e complexo sobre as dificuldades da experiência feminina em um ambiente que trata como tabu questões de saúde pública”. O longa também se destaca pela construção de uma rede de apoio entre mulheres, onde a sororidade substitui o julgamento. ''É nas figuras femininas ao seu redor que a protagonista encontra apoio'', completa a crítica, ressaltando o papel de Kelly (Bárbara Vitória), melhor amiga de Janaína.
Vencedor de Melhor Atriz no Festival do Rio, Melhor Direção no Panorama Internacional Coisa de Cinema e de sete prêmios no FestAruanda, o filme tem roteiro e direção de Milena Times, e produção de Espreita Filmes, Ponte Produtoras e Ventana Filmes, com distribuição da EMBAÚBA FILMES.