ABRE ALAS, primeiro longa-metragem de Ursula Rösele, reúne sete mulheres entre 53 e 85 anos em um mesmo espaço para conversar sobre as histórias de suas vidas. Entre lembranças e confissões, elas performam suas próprias vivências, transformando o ato de falar em gesto e o trauma em arte.
O filme, produzido pela SANAR PRODUÇÕES e distribuído pela EMBAÚBA FILMES, chega aos cinemas em 11 de dezmbero e é parte de uma proposta simples: escutar. Em alguns momentos, escutar, inclusive, o silêncio. São mulheres que enfrentaram violências, preconceitos, solidão e invisibilidade, mas que hoje se permitem rir, amar e existir com plenitude.
Entre as protagonistas, estão Walkíria, mulher trans de mais de 60 anos, que conta ter se sentido “autorizada” a ser quem é desde o momento em que saiu de casa. ''Eu me sinto tudo isso: mãe, pai, avó, avô… porque me chamam de tudo isso'', diz. Dora, por sua vez, relata uma história marcada por violência doméstica, abandono e ausência de afeto: ''Eu nunca tive carinho e, quando me dei conta disso, senti muita vergonha. Mas eu não sou apenas uma mulher, eu sou 100% mulher. Não sou um sexo frágil'', afirma.
Silvana, que trabalhou como empregada doméstica e precisou interromper os estudos, revela o processo de se reconhecer em meio às dificuldades: ''Eu tive que lutar pra ter minha casa. Depois que conquistei, consegui criar um negócio e comecei a me enxergar. Vou contar um segredo: estou começando a me conhecer. Meus gostos, minha maturidade, estou me amando''. Sheila viveu uma tragédia familiar que mudou completamente sua rotina e, desde então, transformou a dor em força, acreditando que toda mulher tem dentro de si a capacidade de lutar e seguir em frente.
Regina, que sofreu maus-tratos dos pais adotivos e só se sentiu livre muitos anos depois, após ficar viúva, celebra o prazer de viver: hoje dança, vai à praia e experimenta uma vida que antes lhe era negada. Já Lorena, mulher trans, teve a oportunidade de viver sua identidade desde cedo, graças ao apoio de uma família amorosa, algo ainda raro na comunidade trans. No entanto, as dificuldades econômicas e a falta de espaço para sua expressão de gênero no interior a levaram à prostituição. Ainda assim, ela encontrou acolhimento ao longo do caminho e hoje compartilha sua trajetória com serenidade e orgulho: ''Não é exigir… é só querer respeito e viver feliz. Viver não é querer muito. Depois de tudo que passei, estar aqui contando minha história já é uma felicidade completa''.
Heloísa, por fim, enfrenta a dor da perda de uma filha para a depressão e reflete sobre o peso de ter que ser sempre forte, reconhecendo que essa exigência constante também a afastou dos momentos de presença como mãe.
Com olhar atento, Rösele - Doutora em Cinema pela UFMG e pesquisadora da performance documental - constrói um filme que se equilibra entre o real e o simbólico. Inspirada por autores como Eduardo Coutinho e pela ideia de que ''escrever é sanar'', a diretora transforma o set de gravação em um espaço de cura e criação coletiva. ''Todo renascimento precede uma morte'', reflete ela. ''Para que mulheres possam expressar, desejar e criar, é preciso que toda uma estrutura vibre, ruindo e renascendo''.
Premiado com o Melhor Destaque Feminino no Femina 2025 – Festival Internacional de Cinema Feminino, ABRE ALAS é a escolha de Ursula por “uma rota do coração”, como define a própria diretora.