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| Lela Brandão, Pedro Pacífico e Mari Palma. Divulgação: CNN Brasil |
O Na Palma da Mari desta semana traz um encontro raro entre duas vozes fundamentais da internet brasileira atual: Pedro Pacífico, o Bookster, e a escritora e podcaster Lela Brandão. Em uma conversa profunda e acessível com Mari Palma, eles discutem temas que vão do impacto do algoritmo às expectativas do público, passando por esgotamento, autenticidade e a reconstrução de suas próprias narrativas digitais.
Pluralidade e liberdade de opinião
Bookster reflete sobre o efeito das bolhas digitais e a importância de conservar espaços onde seja possível discordar com respeito. ''A gente precisa voltar a aprender a falar que a gente não gostou de alguma coisa. Lógico, com respeito, com bom senso e sem uma crítica pesada. Mas essa pluralidade de opiniões é muito importante. Senão a gente fica vivendo num ciclo homogêneo, que todo mundo pensa igual quando não é verdade. E isso só é mais agravado por um algoritmo que só manda para a gente quem pensa igual a gente. Então a gente fica achando que está todo mundo igual. E isso perde muito o senso crítico, o pensamento crítico, né? A discussão, a troca. Pluralidade.''
O algoritmo como vilão invisível
O criador também comenta como métricas e tendências moldam comportamentos, e acentuam a pressão por entregar sempre mais. ''O algoritmo é o principal vilão dessa história. Se não existisse o algoritmo, a gente não ia ficar pensando se precisa fazer o gancho no começo do vídeo. Isso prende a gente e cria regrinhas da internet. E aí você tenta equilibrar entre usar isso como estratégia e inserir sua autenticidade num formato que funciona e que, no fim das contas, é o nosso trabalho. (...) Porque tem muita performance e muita coisa fake nas redes. A gente tem que tomar cuidado, porque senão recai sobre nós uma pressão de não estar fazendo aquilo que a outra pessoa tá entregando.''
A vida dupla entre o Direito e a internet
Bookster relembra o período em que tentou equilibrar duas carreiras até o corpo pedir pausa.''Eu cheguei num momento da minha vida em que eu tava levando uma vida dupla já há seis anos. Internet dá muito trabalho e o direito é uma loucura também. Eu tava sempre equilibrando pratos e a maior pergunta que me faziam era: como você dá conta? E eu sempre respondia: eu não dou conta. Eu tava sempre devendo em várias áreas da minha vida. Eu tinha medo de abrir mão do direito, que é mais estável, pra trabalhar com internet, que eu não sabia onde ia dar. (...) Mas tive um ataque de pânico no final do ano passado e percebi que eu ia morrer por conta dessa vida alucinante.''
O cuidado extremo ao comunicar
Lela comenta a responsabilidade de falar para grandes audiências e o processo minucioso de revisar seus episódios. ''Eu faço a Marcia reescutar umas 30 vezes o episódio, sério. Se deu pra ver, se deu pra entender o que eu falei, se dá pra interpretar de alguma forma equivocada e tal. Eu gravei de dentro do meu quarto. Então, na prática, quando eu tô gravando, eu não sinto essa pressão de que centenas de milhares de pessoas estão escutando. Primeiro é que o formato longo é igual ao livro. Se a pessoa não gostar, ela já vai abandonar, sabe? Tipo assim, ela não vai ler, geralmente, né? Ela não vai ficar até o final do podcast falando essa bruaca está falando uma coisa que eu odeio e eu discordo com ela. Ela vai ouvir os primeiros minutos e vai mudar. Quem fica, se conectou de alguma forma.''
Feminismo, identidade e o fim da fase ''didática''
A escritora também revisita sua transição de ''Frida Feminista'' para ''Lela Brandão'', marcando uma nova forma de se colocar no debate. ''Eu comecei falando sobre feminismo de uma forma muito didática. Quando eu tinha 20 e poucos anos, como você sabe, tipo professora de feminismo. E aí, eu entendi que essa carga era muito pesada pra eu carregar. E também, eu entendi que eu precisava partir de um ponto de vista, né? As pessoas precisavam entender que eu não sou o feminismo. Eu sou uma mulher feminista, que eu tenho os meus recortes. Eu sou uma mulher branca, cis, etc. Existem outros vertentes, outras visões sobre isso. E aí, quando eu mudei o meu @ de Frida Feminista pra Lela Brandão, foi muito um marco de eu não vou mais falar didaticamente sobre feminismo.''
Um episódio sobre identidade, vulnerabilidade e escolhas
Entre reflexões pessoais e conversas sobre tecnologia, criação e autocuidado, Bookster e Lela compartilham as tensões e os aprendizados de viver publicamente em um ambiente onde tudo pode virar conteúdo, e onde honestidade e limites importam mais do que nunca.
Na Palma da Mari
Toda quinta-feira, às 20h (horário de Brasília), no canal CNN Pop no YouTube.
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Programação
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