Cinejornal recebe Dilma Rousseff e Susanna Lira

A nudez é muito pior para a mulher do que para o homem. Principalmente porque os torturadores eram só homens. Eu nunca tive uma torturadora mulher
Dilma Rousseff

Divulgação

Esse é o trecho de ''Torre das Donzelas'' escolhido para abrir o Cinejornal em que a repórter Maria Clara Senra entrevista a diretora do filme, Susanna Lira, e a ex-presidenta Dilma Rousseff. O programa vai ao ar na madrugada de terça (30/03) para quarta (31/03), à 0h10, imediatamente antes da exibição do documentário, à 0h30, no Canal Brasil. As três conversam sobre como a produção foi mudando junto com a situação política do país, sobre como as presas da Torre das Donzelas faziam para sobreviver ao cárcere e saírem de lá mais fortes e sobre o atual momento da cultura no Brasil.

Seguem alguns trechos da entrevista:

Susanna: Mas Dilma, a experiência política que vocês vivenciaram lá foi algo muito potente, né? Quando eu resolvi fazer um recorte e falar só sobre a Torre das Donzelas é porque eu comecei a ver o que as mulheres que saíram de lá estavam fazendo na vida delas, eu fiquei muito impressionada. Algo aconteceu dentro desta prisão que é muito especial. Elas conseguiram reverter algo inimaginável que é esse terror da prisão, e se transformarem em mulheres muito fortes.

Dilma: O que eu acho que nós conseguimos foi criar um coletivo que ajudava cada uma de nós a viver sua experiência na prisão e nos fortalecia. A prisão é uma coisa interessante: é o controle do tempo e do espaço, como já dizia Foucault. O que nós conseguimos foi ampliar o espaço e sermos senhoras do nosso tempo. Nós conseguimos portas abertas, o coletivo conseguiu negociar, foi uma negociação que não era com autoridade, era com as mulheres carcereiras. E ganhamos o tempo porque nós definíamos o que fazíamos no nosso tempo, nas 24h. Definimos também pela apropriação das nossas vidas: nós é que fazíamos a nossa comida. Resistir também significa entender a tortura, compreender como era e como foi. Porque tinha um processo dessa prisão. Era assim: você era presa, geralmente, pelos DOI-CODIs, no DOPS você fazia uma coisa chamada “cartório” e depois ia para o Presídio Tiradentes, para a Torre das Donzelas. Nós, de forma irônica, nos chamávamos de donzelas. O método de resistência lá dentro era a vida cotidiana. Nós nos encontrávamos com o lado de lá, o lado dos companheiros, na sala de espera do dentista. A resistência que se tem dentro de um presídio é a luta cotidiana para dominar o tempo e o espaço. O tempo e o espaço têm que ser seus, é isso o que você quer numa prisão. Está escrito assim, lá em cima “Feliz do povo que não tem heróis”. Eu achei meio chocante. É do Brecht essa frase. Mas realmente é feliz o povo que não tem heróis, no sentido de que não precisa de heróis. O povo que não precisa de heróis é um povo livre.

Susanna: Que saudade da minha ex! Que saudade de uma presidenta que tinha cultura neste país, que falava de Brescht. Pelo amor de Deus, o que aconteceu com a gente?

Susanna: Eu começo a fazer esse filme em 2011, a Dilma estava no poder, a gente estava com a Comissão da Verdade e a Comissão da Anistia bombando no país. E essa memória era algo que precisava ser lembrada e ser documentada para as próximas gerações. Ao passo que o filme foi andando, as coisas foram mudando muito. A gente gravou no estúdio no meio da defesa do impeachment da Dilma, do golpe que a Dilma sofreu. E aí a ideia do filme também foi mudando. Era um filme de memória mas, quando a gente estava filmando, já não era mais um filme de memória, era um filme de resistência, de falar “vocês não podem negar o que aconteceu neste país”. O filme já era uma outra coisa. Quando o filme foi exibido no Festival de Brasília, ele já era uma outra coisa também. Tudo o que foi construído, a história dessas mulheres, não foi em vão. Nada foi em vão. Não existe perda, só existe investimento em história. O que elas deixaram e o que elas deixam todos os dias é um legado de luta. Isso ninguém vai tirar da gente. Pode dizer que não aconteceu, pode negar o que quiser! Então o filme hoje é um obrigada: isso aconteceu e a gente não vai deixar que isso morra de forma alguma.

Maria Clara: O cinema brasileiro vinha conquistando muitas coisa, estava em um momento profícuo e ainda está colhendo os frutos disso. E agora a gente está nessa situação: Não temos mais nem Ministério da Cultura, a Ancine está na situação que está. Como você vê esse momento da cultura no Brasil?

Dilma: Eu acho que, como tudo, é um retrocesso, um processo de destruição. Mas tem um problema, uma má notícia para eles: eu acho que tem muita força na cultura pela indignação que produziu nos artistas. Eu acredito muito numa reação que vem agora pós-pandemia. Eu acredito que a cultura vai reagir, por mais restrições que eles tenham, por maiores que sejam as tentativas de sufocar.

Susanna: O que eles plantaram na gente está florescendo, e vai florescer mais. Nós não vamos sair do front. O nosso papel como realizadores e como artistas é, sim, trazer pensamentos críticos e confrontos. Se este governo não sabe lidar com a gente, ele vai ter que aprender ou ele vai sair daí. Porque desde que a arte surge no mundo, ela surge com este papel.

Maria Clara: Você tem sido personagem de muitos filmes. Teve “O Processo”, por exemplo, que fala sobre todo o processo de impeachment. Teve o da Petra Costa também, o “Democracia em Vertigem”. Como é isso? Se ver na tela do cinema, se ver num filme.

Dilma: O cinema é uma mídia mais forte que qualquer outra porque ele te emociona mais fácil. Vendo filme eu choro, eu rio, eu participo. O cinema tem isso, é uma viagem. Então quando eu vejo isso no cinema, eu vou te dizer o seguinte: é uma parte da história.    

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