Em edição especial de "O Som do Vinil", Teresa Cristina entrevista Charles Gavin

Divulgação

''Olá, minha gente, eu sou Teresa Cristina, habituée deste programa, de carteirinha, já participei quatro vezes. E hoje, com o programa voltando deste modo remoto, invertemos os papéis. E eu estou muito contente de trocar de lugar e colocar na 'cadeirinha da resposta' esta pessoa tão admirada e uma pessoa tão importante para a música brasileira. Um músico, pesquisador, um arqueólogo que descobriu e redescobriu vários tesouros da música brasileira. E para a gente que gosta de música, e que gosta de todo tipo de música, a gente tem ele em muito boa consideração: Charles Gavin, seja muito bem-vindo ao 'O Som do Viníl', fique à vontade e sinta-se em casa! Vamos trocar!''. É assim que a rainha das lives, Teresa Cristina, abre a edição do programa ''O Som do Vinil'' que vai ao ar hoje, segunda-feira, 1º/02, às 22h30, no Canal Brasil. A seguir, trechos da entrevista em que Charles e Teresa conversam sobre os álbuns ‘Cabeça de Dinossauro’ e ‘Jesus não tem Dente no País dos Banguelas’, dos Titãs.

TC “A primeira coisa que eu queria saber é a seguinte: você fez parte, você tocou, em dois álbuns dos Titãs que eu gosto bastante, o ‘Cabeça de Dinossauro’; e o ‘Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas’. A gente está no momento no Brasil vivendo uma completa distopia, está tudo virado do avesso, e tem uns discursos, tem umas canções, nesses álbuns que se, por acaso, vocês lançassem este ano, ninguém ia notar a diferença. Você tem ideia disso, do trabalho que vocês estavam fazendo? Ou você acha que as pessoas enxergavam isso como ‘ah, são roqueiros revoltados!’”

CG “Os Titãs gravaram o primeiro disco, no qual eu não estou, que foi um sucesso de rádio, estouraram umas três ou quatro músicas nas rádios, mas não vendeu. O segundo disco, que é sempre um teste para uma banda, foi produzido pelo Lulu Santos, a gente emplacou algumas músicas no rádio também, como ‘Televisão’, ‘Insensível’ e ‘Massacre’, uma letra cantada em italiano, veja você, mas também não vendeu muito. Então no terceiro disco – não importa fazer uma música boa ou não, para a indústria fonográfica, bom é o que vende – então ou a gente fazia um disco que vendesse ou a gente ia ser descartado do casting. Quando a gente gravou o ‘Cabeça de Dinossauro’, em 1986, foi uma leitura do nosso momento: o que a gente está enxergando, o que a gente vai falar. E o que a gente via e enxergava naquele momento era o que está no disco: polícia, igreja, família – que é uma crítica super bem humorada - , homem primata, tem estado, violência, porrada, dívidas... essa letra talvez seja uma das letras mais atuais, mais do que outras até que são muito políticas. Ela fala de uma pessoa que está muito endividada e não consegue se livrar das dívidas! Diante das outras é uma música que as pessoas até esqueceram, porque as outras têm muita força. Como ‘Homem Primata’, que era ‘Homem Primata Capitalismo Selvagem’, mas as pessoas entendiam ‘homem que mata’, então o refrão em muitos lugares do Brasil ficou esse ‘homem que mata, capitalismo selvagem’. Mais atual do que nunca!”

TC “Genial, esse disco é genial!”

CG “O ‘Jesus não Tem Dentes’ é um pouco isso. Quando os jornalistas perguntavam ‘mas o que quer dizer esse título?’, a gente respondia ‘esse é um ditado que explica o Brasil de hoje’. Um país com tantos problemas, onde nem Jesus, nem ele tem dentes, nem ele escapou, até ele foi pego pela falta de políticas públicas, de saúde, de educação etc etc. Até ele é banguela”

CG “Eu me lembro quando surgiu essa frase, assim como surgiu ‘Cabeça de Dinossauro’, que surgiu num ônibus. De repente o Branco [Mello] levantou, ou o Paulo [Miklos], não me lembro, e falou ‘cabeça de dinossauro’, aí alguém falou ‘pança de mamute’, e o outro no fundo ‘espírito de porco’, a letra foi assim que surgiu. Surgiu em menos de um minuto, a música veio depois. Era incrível, era um caldeirão de ideias que não tinha dono. Arnaldo [Antunes], Branco [Mello], [Sérgio] Britto, Paulo [Miklos], Tony [Bellotto], eu, Nando [Reis], todo mundo”

TC “Fazer canções assim ‘Igreja’, ‘Polícia’, ‘Família’, que são instituições que todo governo opressor usa para achatar a gente. Então a Igreja, a instituição Igreja, e naquele momento, quando vocês falam de Igreja, a preocupação era com a Igreja Católica, por tudo o que a Igreja Católica fez, e vocês ainda nem tinham ideia do fundamentalismo...”

CG “Quando o ‘Cabeça de Dinossauro foi lançado nós tivemos problemas com a polícia”

TC “Oh: ‘Dizem que ela existe pra ajudar’, ‘Dizem que ela existe pra proteger’, ‘Eu sei que ela pode te matar’, ‘Eu sei que ela pode te prender’”

CG “Pode te parar!”

TC “Em qualquer comunidade que você leia esses versos, todo mundo sabe do que você está falando”

CG “A nossa geração, rock brasileiro dos anos 80, que tem o Barão Vermelho, o Paralamas, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Havai, as bandas de Brasília, Plebe Rude, Capital Inicial e tantas outras bandas, as bandas punk de São Paulo, Inocentes, Colera... isso é toda uma geração de gente que contestou e peitou aquele fim de repressão da ditadura. Ainda havia censura. A música ‘Bichos Escrotos’, que era uma música antiga, ela foi proibida a radiodifusão. Podia comprar no disco, mas no rádio ela não podia tocar. E, ao lado de dívida, eu acho que é uma das mais atuais, porque fala ‘bichos saem dos esgotos’. Os bichos, de uns anos pra cá, eles saíram dos esgotos com toda força”

TC “Inclusive eu cantei em uma live essa música com filtro de Teletubbies”

A Teresa Cristina, Charles Gavin falou ainda como se tornou, além de músico, pesquisador e estudioso de música, principalmente da música brasileira. Gavin falou ainda sobre a função que desempenha no Canal Brasil há 14 anos: a de entrevistador.

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