Divulgação Globo/Alberto Fernandes |
No Dia Nacional do Podcast, 21 de outubro, a jornalista e apresentadora do ‘Bom Dia Brasil’, Ana Paula Araújo, estreia como podcaster com 'Abuso', uma adaptação em áudio realizada pela Rádio Novelo, do seu livro 'Abuso: A cultura do estupro no Brasil', lançado há um ano. Disponível no Globoplay, G1 e Deezer, o podcast tem seis episódios produzidos pelo Jornalismo da Globo.
O podcast também contempla depoimentos inéditos tanto de vítimas como de especialistas na área, além de situações vividas pessoalmente por Ana Paula, testemunhos e entrevistas realizadas ao longo de quatro anos de produção do livro. “Trazemos no primeiro episódio, por exemplo, o caso da Daniela, que foi abusada a infância inteira pelo padrasto e, na adolescência, fugiu de casa e foi morar debaixo do viaduto. Até que foi recolhida pelo serviço social de uma igreja, conheceu seu marido e conseguiu ajustar sua vida”, conta Ana Paula. Daniela fez mestrado na Espanha e, ao voltar para o Brasil, criou o Instituto É Possível Sonhar, onde acolhe outras mulheres vítimas de violência sexual.
Com mais de 20 anos de experiência no Jornalismo, Ana Paula conta as principais diferenças para uma produção em formato podcast. “No áudio, precisamos prestar mais atenção ao som ambiente, temos que descrever detalhes, sem que fique algo cansativo”, explica ela, que conta com uma equipe majoritariamente feminina. Como fala muito rápido, precisou se adaptar para manter a linha da narrativa. “Uma história lida é diferente de uma histórica contada, é um relacionamento mais próximo. Você se sente mais acompanhado, traz um pertencimento à informação. No livro, cada um faz sua imagem na sua cabeça. Por conta do meu trabalho na TV, muita gente me diz que lê o livro com a minha voz”, comenta.
Ela também acredita que a adaptação em áudio tende a levar a mensagem do livro não só a outras mulheres, mas também aos homens. “Eu me surpreendi muito com o feedback positivo de homens que leram o livro”, revela. Para a jornalista, a educação sexual é imprescindível para a diminuição dos abusos, que, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, são o tipo de violência que mais faz vítimas crianças e adolescentes no Brasil. Os casos, em sua maioria, são registrados dentro de casa, justamente por quem deveria proteger as crianças, normalmente envolvendo pessoas da família.
O podcast ‘Abuso’ está disponível no Globoplay (via celular), G1 e Deezer, e cada um dos seis episódios será publicado semanalmente, às quintas-feiras.
ENTREVISTA
1. Qual a importância da adaptação do livro em podcast para a expansão da mensagem e informações sobre o tabu do abuso sexual no Brasil?
O podcast tem o poder de aproximar os ouvintes da narrativa. O número de vítimas de abuso tem crescido no país, principalmente com o isolamento social decorrente da pandemia, que aumentou o tempo das vítimas com seus abusadores presentes nos mesmos lares.
2. Quais os principais desafios de se fazer conteúdo em áudio após tantos anos na TV?
Uma história lida é diferente de uma histórica contada, é um relacionamento mais próximo. Você se sente mais acompanhado, traz um pertencimento à informação. Eu falo muito rápido, então precisei me adaptar para manter a linha da narrativa.
3. Como acredita que a mensagem pode impactar também os homens, principais acusados de abuso no Brasil?
Eu me surpreendi muito com o feedback positivo de homens que leram o livro, bem-intencionados com a pauta e em fazer mudanças em seus comportamentos. Acaba sendo atrativo também aos pais, que buscam compreender mais recursos para educar seus filhos.
4. Como enxerga o ponto sensível das vítimas entre o abuso e transformar a violência em mensagem para alertar outras mulheres?
Eu realmente admiro as mulheres que conseguem transformar suas dores em energia para proteger outras mulheres, evitando que situações de abuso se perpetuem por tantas famílias, classes sociais, financeiras e idades. Existe uma entrevistada do livro, e que está presente no podcast, que criou uma ONG para acolher outras vítimas de abuso como ela.